12.5.07

América LATINA

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Como o Polipoliticus propõe-se a falar da dinâmica política da América Latina, vale esclarecer de que parte do mundo estamos falando. Ao contrário do que ensina a maioria dos professores do ensino básico, muitos países que ficam ao sul dos Estados Unidos não são latino-americanos.

O conceito refere-se aos territórios da América em que a população fala idiomas de origem românica como o espanhol, o português e o francês. De forma mais prática, é integrada por 20 países e mais 11 territórios que ainda não são independentes. Excluem-se, portanto o Suriname a algumas ilhas caribenhas, onde fala-se holandês, além de Belize, Jamaica, Guiana, Bahamas, Barbados e muitos países insulares onde o inglês predomina.

Essa é a constituição política da América Latina, mas, para se entender sua complexidade, é preciso falar do povo que vive por aqui. Devagar, pretendo escrever sobre quem são e como vivem os latino-americanos.

6.5.07

Pelea ideológica

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Em clima de Guerra Fria, o documentário “Venezuela, una Amenaza Real”, produzido pela Fundação Nacional Cubano Americana (FNCA), descreve Hugo Chávez como o demônio encarnado. Dividido em cinco partes, a produção reúne fragmentos de discursos e imagens jornalísticas cobertas com uma narração e uma trilha sonora exagerada.

Fundada por exilados políticos, em 1981, a FNCA é integrada por empresários e profissionais opositores ao regime de Fidel Castro. A organização define-se como independente, não lucrativa, e enuncia que trabalha com dedicação e tenacidade para resgatar a democracia e a liberdade cubana.

Apesar de explicitamente ideológica e tendenciosa, a edição dos vídeos tem estratégias de persuasão. Vale a pena ouvir uma das partes envolvidas na guerra discursiva que promete esquentar o continente. Tu podes assistir aos cinco vídeos clicando abaixo:













Foto: Divulgação Palácio Miraflores

5.5.07

Alba será financiada por petrodólares

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É reunião aqui e ali, cúpula disso e daquilo. A política latino-americana movimenta-se, não em sentido único, mas vai moldando suas alianças e configurando um cenário que deve ser turbulento nos próximos cinco anos. No último fim de semana, a cidade de Barquisimeto, na Venezuela, recebeu lideranças canhotas para a 1ª Cúpula da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas). Criada há três anos, a Alba reúne Cuba, Venezuela, Bolívia e Nicarágua, e tem como propósito central integrar a política, e não prioritariamente a economia, latino-americana. O foco de Fidel e do “Chapolin de Carácas”, Hugo Chávez, é firmar convênios sociais que permitam sintonizar a ideologia do grupo e desvincular a região das instituições financeiras internacionais como FMI e Banco Mundial.

Não é difícil adivinhar o tom dos discursos em um encontro de Chávez, Morales, Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, e Carlos Lage, vice-presidente cubano. Ortega praguejou o imperialismo capitalista, Evo Morales coroou Hugo Chávez como Bolívar II, chamando-o de "libertador da América", e este, por sua vez, lamentou que o petróleo latino-americano servisse, no passado, ao desenvolvimento dos Estados Unidos.

Este ano, a Venezuela tem uma meta de produção de quase três milhões de barris de petróleo por dia. Esguichando ouro negro e distribuindo dinheiro, Chávez começa a concretizar seus planos. Aproveitando a onde de nacionalização dos hidrocarbonetos na Bolívia e em seu país, o presidente venezuelano garantiu, em Barquisimeto, suprir toda a demanda energética da Bolívia, Cuba, Nicarágua e Haiti. Ademais, 50% será financiada para a criação de um “Fundo Alba”, reservado a projetos sociais no setor agrícola, produção de alimentos e incentivos às pequenas e médias empresas desses países.

Outra forte medida política e econômica dos membros da Alba foi a decisão de se retirarem do Cirdi (Centro Internacional de Regra de Diferenças Relativas a Investimentos), vinculado ao Banco Mundial. O motivo alegado foi que as decisões judiciais do órgão não primam pela justiça, mas representam interesses de empresas multinacionais.

Também participaram da 1ª Cúpula da Alba, como observadores, o presidente do Haiti, René Préval, e a ministra das Relações Exteriores equatoriana, María Fernanda Espinosa. O Equador, comandado por Rafael Correa, adepto ao “socialismo do século 21”, já sinalizou que pretende aderir à Alba. O próprio Kirchner tem se mostrado solidário às causas do “Chapolin de Caracas”. Argentina, Venezuela e Bolívia pretendem instaurar o Banco do Sul para diminuir a dependência financeira da região.

E vem mais por aí. A 1ª Cúpula de Presidentes e Movimentos Sociais da região já foi convocada para o mês de julho, na cidade de Cochambamba, na região central da Bolívia.

E tu com isso, Lula? Melhor o muro, não é?

27.4.07

Querem recortar o tesouro paraense

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Ainda não conheci, mas esta semana passei bem perto da Serra dos Carajás e da Serra Pelada. Por alguns dias estive em Marabá, cidade com pouco mais de 200 mil habitantes que cresce de forma vertiginosa tanto demográfica como economicamente. Marabá é o pólo urbano do Sul e Sudeste do Pará e está a duas ou três horas de uma das grandes reservas minerais do mundo, concentrada nos municípios de Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Parauapebas.

A descoberta de minérios na Serra dos Carajás começou em 1966. Durante a década de 1970, o Brasil uniu-se a empresas estrangeiras para extrair a riqueza do solo paraense até o general Figueiredo lançar o projeto “Grande Carajás”. Com isso, as transnacionais foram indenizadas e o monopólio da atividade foi atribuído à, na época, estatal Companhia Vale do Rio Doce. Hoje, privatizada, a empresa ainda opera na região e extrai principalmente ferro, cobre e manganês.

Mas na década de 1980, o que moveu uma multidão ao Pará foi o ouro. A Serra Pelada, localizada dentro do município de Curionópolis, transformou-se em um formigueiro humano (foto) que atraía gente de todos os lados, sonhando em desenterrar a aposentadoria. Em 1991, por ter alcançado o lençol freático e inundado, a produção de ouro do maior garimpo a céu aberto do mundo caiu drasticamente e os garimpeiros debandaram.

Em maio de 2005, um acordo entre governo e garimpeiros reativou a atividade no garimpo de Serra Pelada. Essa região do Pará é tão rica em recursos naturais que, ao conhecer Carajás, o premier do Conselho de Estado chinês Zhao Iyang cresceu o olho: “Seus antepassados devem ter subornado Deus para Ele lhes dar tanto. Tenho inveja de vocês”, admitiu.

Mas esse assunto de minérios e garimpos veio parar aqui, no Polipoliticus, por uma simples razão: um projeto de lei, querendo criar um novo Estado brasileiro, já está tramitando no Congresso. Há um time de políticos, empresários e cidadãos comuns querendo desmembrar o Sul e o Sudoeste do Pará e constituir o Estado do Carajás. A idéia já tem sítio na internet e até folder (não assinado). O novo Estado seria formado por 38 municípios, incluindo Cannaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Parauapebas e seus tesouros subterrâneos.

Para o projeto tornar-se realidade, os eleitores do território que formaria o novo Estado precisam aprovar a idéia em um plebiscito. No caso de aprovação, a unidade federativa precisará de uma capital. O que farão? Ou uma nova cidade brotará no meio do nada, como Brasília e Palmas, ou optarão por instituir o pólo urbano regional como capital. No caso, Marabá. Com certeza, tem muita gente interessada e preocupada com essa história.


23.4.07

A marcha dos pingüins

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As eleições presidenciais da Argentina, marcadas para 27 de outubro, já tem pretendentes declarados. Roberto Lavagna, ex-ministro da Economia, o insistente e corajoso ex-presidente Calos Menem e a deputada Elisa Carrió lançaram-se no início do ano. Mas a especulação em torno dos candidatos concentra-se sobre o casal da situação. O presidente Kirchner e a primeira-dama e senadora Cristina Fernandéz mantêm um joguinho de indecisão estratégica. Esperam a opinião pública manifestar-se mais explicitamente para decidir quem entra na disputa, apesar das pesquisas apontarem à vitória dele e dela, se o pleito ocorresse hoje.

Néstor Carlos Kirchner se tornou presidente da Argentina depois da desistência de Menem, que ganhou no primeiro turno com 24,3%, mas jogou a tolha quando percebeu que 75% dos argentinos têm calafrios ao ouvir seu nome. Kirchner militou na Juventude Peronista e foi governador da província de Santa Cruz, última antes da Terra do Fogo. Ele e a esposa – “el pingüino y la pingüina”, como dizem os argentinos – dirigem uma série de empreendimentos na Patagônia, e integram o Partido Justicialista, fundado por Juan Perón.

Kirchner carrega consigo fortes traços do ex-presidente. Com um discurso em tom populista e nacionalista, rechaçou um novo acordo com o FMI, dizendo que a Argentina não deve dobrar-se às receitas de política econômica que vêm anexadas aos empréstimos de fora. A guinada à esquerda também inclui a defesa dos acordos com a Venezuela e a encrenca feia com Tabaré Vasquez, presidente uruguaio, em função da indústria de celulose que será implantada na fronteira entre os dois países, nas margens do rio da Prata.

O caráter peronista de Kirchner é tão evidente que o presidente arrastou a esposa como extensão da personalidade política. Se Cristina vence as próximas eleições, Kirchner certamente voltará na próxima corrida e pode emplacar 12 anos de comando. A pretensão de agarrar o poder com unhas e dentes não é novidade. Eleito governador de Santa Cruz em 1991, conseguiu reformar a legislação estadual para permitir a reeleição ilimitada. Resultado: venceu três vezes consecutivas.

Só para recordar, Perón lançou Evita como candidata a vice-presidente quando tentava a reeleição, em 1952. Porém, foi pressionado pela extrema direita da época a abrir mão da idéia para manter a estabilidade política. Por isso, contentou-se em colocá-la no posto de Ministra da Assistência Social. Mas isso não é tudo. Depois do terceiro mandato, que encerra com sua morte, quem assume a presidência é nada menos que Isabel, sua terceira esposa e vice-presidenta eleita. O mandato foi um caos e acabou interrompido pelo golpe militar de 24 de março de 1976.

A semelhança, a meu ver, é clara. Tanto na forma de se dirigir aos eleitores, com discursos inflamados e cafonas, quanto nas estratégias, concentrando poder de decisão e fazendo da esposa uma extensão política. Kirchner revela ser mais peronista que qualquer outro. E a marcha dos pingüins segue até outubro.


Foto: Wikipedia

20.4.07

Algo está mudando na Bolívia

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O mundo olhou desconfiado para a Bolívia no dia 18 de dezembro de 2005. Foi quando Evo Morales Ayma, solteiro, índio Aymara, ex-pastor de lhamas e cocaleiro sindicalista foi eleito presidente, com 52% dos votos. Temido pelo radicalismo e pelos planos de nacionalização de hidrocarbonetos, arrepiou o cabelo de muitos acionistas de petroleiras instaladas no país. Nada menos que doze gigantes do ramo exploram os “hidrocarburos” em solo boliviano, entre elas a Petrobrás.

Experimentando o lado oposto da relação imperialista, o Brasil bateu de frente com as pretensões do afilhadinho de Hugo Chávez. Cada vez mais presente na América do Sul, a Petrobrás protagonizou o enrosco diplomático que deixou o time de Lula de boca aberta, sem saber como reagir à reapropriação de refinarias administradas pela empresa brasileira.

Entre nós, alegrei-me ao ver um cidadão indígena sentar-se na cadeira mais importante de uma nação composta por 55% de ameríndios, mas me parecia que lhe faltava vigor, atitude. Entretanto, há 16 meses conduzindo um país em que 65% da população é pobre, Morales se mostra, pelo menos, metido e decidido. Convocou Assembléia Constituinte logo que assumiu e anunciou no mês passado que a Bolívia terá eleições antecipadas em 2008, assim que os trabalhos da comissão encerrarem. Segundo os líderes do partido do presidente, o Movimento para o Socialismo (MAS), a nova Constituição inclui reformas estruturais na política, na sociedade e na economia, o que exigirá uma nova chamada às urnas.

Ontem, o processo de nacionalização dos hidrocarbonetos foi consolidado pelo congresso, que aprovou por unanimidade as 44 leis que irão regulamentar os novos contratos entre o país e as petroleiras. Depois que entrarem em vigor, as normas devem garantir que os cofres da Bolívia contem com U$ 150 a 200 milhões a mais por ano. Ademais, esta semana, Morales saiu da Cúpula Energética Sul-americana com avanços na negociação com Michelle Bachelet para obter uma ligação territorial soberana da Bolívia com o Oceano Pacífico. Uma histórica reivindicação que remete ao século 19, quando Peru e Bolívia perderam parte do território para o Chile na Guerra do Pacífico.

Ainda no campo diplomático, outra boa notícia aos cidadãos bolivianos. O governo argentino anunciou ontem que pretende apoiar, com logística e segurança, a integração dos imigrantes residentes na Argentina aos processos eleitorais da Bolívia. Assim, eles não perderão os direitos políticos e poderão votar na embaixada e nos consulados. Essa conquista, que parece simples, ganha vulto se considerarmos o absurdo de bolivianos que cruzam a fronteira e acabam nas filas da migração argentina. Estima-se que cerca de 1,5 milhão vivam no país vizinho, a imensa maioria em busca de melhores condições de vida.

Entenda-se: algo está mudando na Bolívia. Já me dizia uma amiga, que odeia Morales porque o governo quer estatizar todo o sistema educacional.

Foto: 12.mar.2007/Efe/FSP

19.4.07

Hurricane

Quem tem poder, tem aliados. Ou será o inverso? Fato é que política tem um forte caráter corporativista. Quando o eleitor aperta as teclinhas de dois em dois anos, avaliza um time completo, apesar de, muitas vezes, só conhecer o testa-de-ferro. A trama política é complexa. Este é amigo daquele, que é compadre do desembargador, que deve um favor pro deputado do PZW, que indicou o ministro da “(indi)Gestão Nacional Bur(r)ocrática” e assim a trupe segue o espetáculo, administrando o país como melhor lhes convêm.

Trata-se de uma rede enrolada ao extremo, tão cheia de nós que, às vezes, abre por si mesma. Quando alguém banca o malandro, “coisa muito rara”, acaba envolvendo uma cambada de comparsas e cúmplices. A corrupção utiliza as mesmas vias e vínculos urdidos pela política. Mas desta vez, alguém deve ter desprendido o rabo ou andou tomando uma pisada muito feia. Jogaram a m. no ventilador com toda força. Xilindró para desembargadores, juiz, procurador, delegados da Polícia Federal, advogados e até eles, acima de qualquer suspeita, os bicheiros. Em alguma ponta, a rede do "poder do mau" estourou. A casa caiu, a festa acabou, a luz apagou. E agora Medina?

Vitória da justiça, apesar do Judiciário ficar de calças curtas. Pontos para a democracia, numa operação que desbanca gente que tinha poder demais e vergonha nenhuma. O Brasil nunca imaginou que um furacão faria tão bem ao país. Tomara que os ventos continuem soprando forte e estourando a rede.