22.1.08

A opção do Estado asséptico

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Lia um suplemento de jornal quando deparei com um parágrafo que me beliscou. No texto “O prazer de dizer não”, o poeta e autor alemão Hans Magnus Enzensberger, 78 anos, refletia sobre sua trajetória fazendo um paralelo com a política de sua pátria.

Atualmente, a Alemanha se tornou tão habitável que é dirigida por uma dona-de-casa. Melhor assim. Tranqüilizador. Sonho com o dia em que a política será um serviço público entre outros, útil com a coleta de lixo, livre das paixões que nos fizeram tanto mal. A política não deve invadir tudo. Foi por isso, por autodefesa, que escolhi a literatura, a poesia, o amor e as viagens”.

Não que tenha achado um disparate. Ocorre é que me preocupo tanto em avaliar os prós e contras de socialistas, liberais e populistas que há muito tempo não imaginava um Estado asséptico, desideologizado. É sonho, obviamente. Mas o utilitarismo implicado nesse parágrafo parece estar preocupado com o bem comum e se importa com as conseqüências do exercício do poder.

Se nos pusermos de acordo com Enzensberger, discursos comunistas, populistas, nacionalistas e nazistas viram troças, palavras sem efeito, bradadas em tom ridículo. A ideologia da desideologização pede uma postura prática e defende o fim da perseguição política. O governo deveria ser um serviço público tão discreto quanto a coleta de lixo. Na eleição, contrataríamos administradores em vez representantes de esquerda, direita ou loucos ambidestros.

Em tempos que não restam opções, em que o sonho marxista-leninista ruiu completamente, talvez a sugestão acima não seja despropositada. Somente os beneficiados do sistema acreditam que encontramos uma fórmula coerente e justa no capitalismo (pseudo)democrático-liberal.


Foto: site www.latinamericanstudies.org