20.4.07

Algo está mudando na Bolívia

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O mundo olhou desconfiado para a Bolívia no dia 18 de dezembro de 2005. Foi quando Evo Morales Ayma, solteiro, índio Aymara, ex-pastor de lhamas e cocaleiro sindicalista foi eleito presidente, com 52% dos votos. Temido pelo radicalismo e pelos planos de nacionalização de hidrocarbonetos, arrepiou o cabelo de muitos acionistas de petroleiras instaladas no país. Nada menos que doze gigantes do ramo exploram os “hidrocarburos” em solo boliviano, entre elas a Petrobrás.

Experimentando o lado oposto da relação imperialista, o Brasil bateu de frente com as pretensões do afilhadinho de Hugo Chávez. Cada vez mais presente na América do Sul, a Petrobrás protagonizou o enrosco diplomático que deixou o time de Lula de boca aberta, sem saber como reagir à reapropriação de refinarias administradas pela empresa brasileira.

Entre nós, alegrei-me ao ver um cidadão indígena sentar-se na cadeira mais importante de uma nação composta por 55% de ameríndios, mas me parecia que lhe faltava vigor, atitude. Entretanto, há 16 meses conduzindo um país em que 65% da população é pobre, Morales se mostra, pelo menos, metido e decidido. Convocou Assembléia Constituinte logo que assumiu e anunciou no mês passado que a Bolívia terá eleições antecipadas em 2008, assim que os trabalhos da comissão encerrarem. Segundo os líderes do partido do presidente, o Movimento para o Socialismo (MAS), a nova Constituição inclui reformas estruturais na política, na sociedade e na economia, o que exigirá uma nova chamada às urnas.

Ontem, o processo de nacionalização dos hidrocarbonetos foi consolidado pelo congresso, que aprovou por unanimidade as 44 leis que irão regulamentar os novos contratos entre o país e as petroleiras. Depois que entrarem em vigor, as normas devem garantir que os cofres da Bolívia contem com U$ 150 a 200 milhões a mais por ano. Ademais, esta semana, Morales saiu da Cúpula Energética Sul-americana com avanços na negociação com Michelle Bachelet para obter uma ligação territorial soberana da Bolívia com o Oceano Pacífico. Uma histórica reivindicação que remete ao século 19, quando Peru e Bolívia perderam parte do território para o Chile na Guerra do Pacífico.

Ainda no campo diplomático, outra boa notícia aos cidadãos bolivianos. O governo argentino anunciou ontem que pretende apoiar, com logística e segurança, a integração dos imigrantes residentes na Argentina aos processos eleitorais da Bolívia. Assim, eles não perderão os direitos políticos e poderão votar na embaixada e nos consulados. Essa conquista, que parece simples, ganha vulto se considerarmos o absurdo de bolivianos que cruzam a fronteira e acabam nas filas da migração argentina. Estima-se que cerca de 1,5 milhão vivam no país vizinho, a imensa maioria em busca de melhores condições de vida.

Entenda-se: algo está mudando na Bolívia. Já me dizia uma amiga, que odeia Morales porque o governo quer estatizar todo o sistema educacional.

Foto: 12.mar.2007/Efe/FSP

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