28.6.07

Nada TEMERário

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Ao meio-dia de hoje (quinta-feira), o deputado federal Michel Temer, presidente nacional do PMDB, esteve palestrando na Assembléia Legislativa do Estado do Tocantins. O pseudofato que serviu de escusa para a movimentação na capital nortista foi a inauguração da nova sede do diretório estadual do partido.

Temer iniciou seu discurso louvando o público que lotou o salão de eventos:

- "Com a devida licença das autoridades presentes, gostaria de saudar em primeiro lugar a maior autoridade desta Casa, a autoridade máxima, que está acima de todos nós: o povo".

E assim seguiu falando em tom didático sobre a reforma política, com um viés implicitamente a favor da cláusula de barreira (que extinguiria os mini-partidos) e da lista fechada, derrotada ontem à noite em votação na Câmara dos Deputados. Porém, curiosamente, sua posição inverteu-se em relação à lista. O PMDB, que antes defendia o sistema derrotado em plenário, guinou. O presidente do partido disse que é direito do povo escolher quem será seu representante e que os partidos e o sistema político brasileiro ainda não estão preparados para enfrentar o sistema proposto. O discurso soa como uma adequação às circunstâncias, já que a idéia defendida anteriormente foi rejeitada.

Michel Temer viajou ao Paraná ainda de tarde e depois deve seguir para Santa Catarina e Goiás. Alegando falta de tempo, concedeu uma rápida entrevista coletiva. Às duas perguntas formuladas pelo Polipoliticus, o deputado deu respostas curtas, mas incisavas:


Polipoliticus: Como o senhor vê a especulação sobre a possível cooptação de Aécio Neves para uma candidatura à presidência em 2010 pelo PMDB?

Michel Temer: Isso é o futuro que vai dizer. Eu acho que nós precisamos pensar nas eleições municipais. Depois é que nós vamos examinar esse tema. O que eu tenho dito, e reitero, é que o PMDB tem de lançar um candidato à presidência da República. O nome do governador Aécio Neves é um nome... [ele] saiu do PMDB, não é... E é um nome muito bem visto pelos companheiros.

P: Se o senhor estivesse no lugar do senador Renan Calheiros, ainda estaria na presidência do Congresso?

M: Eu não estou no lugar do senador Renan Calheiros.

P: Mas se estivesse?


... Lá se foi Temer, calado, nada temerário. Virou de costas e encerrou a coletiva. Evitou qualquer palavra que o comprometesse, assim como o governador do Tocantins Marcelo Miranda, deputados e senadores que discursaram no evento. Ninguém tocou no assunto que incendeia o Senado.

Renan Calheiros, do PMDB alagoano, está constrangendo inclusive os companheiros de sigla. Até quando suportará?



Foto: Agência Brasil

26.6.07

A teoria foquista de Che Guevara

Acima, tu dispões de imagens do comandante revolucionário Ernesto Guevara de la Serna entre seu exército. A narração do vídeo traz um pouco das idéias de “Che” sobre estratégias de guerrilha e ajuda a entender a teoria foquista, que influenciou os revolucionários da América Latina nas décadas de 1960 e 1970. Entre eles, o brasileiro Carlos Lamarca, morto em 1971, a quem foi concedida a patente de coronel do Exército brasileiro há duas semanas.

Aplicada com sucesso a partir de Sierra Maestra, na ilha de Cuba, em 1959, a teoria foquista originou-se de outra, formulada pelo francês Louis-Auguste Blanqui, rebelde morto em 1881. A base das estratégias de Che Guevara consistia em atrair e concentrar as massas camponesas em um ponto-chave. E, a partir daí, desencadear a insurreição armada sem preparação política. Para ele, as transformações radicais e aceleradas não são, nem podem ser, maduras e previstas cientificamente com detalhes. A revolução acontece por efeito de paixões e de improvisação dos homens. Guevara argumentava que, se fossem preparadas com antecedência, em pontos ideais, não serviram, pois não se adaptariam ao momento e à realidade do combate.

Indo ao encontro das idéias de Mão Tse Tung, a teoria foquista via no estado moral das tropas um fator praticamente decisivo. Os combatentes encontravam-se em uma condição de intercomplementaridade dos sentidos ético e heróico, já que lutavam convictos do senso de justiça que envolvia a causa.

Depois de lutar em Cuba e participar do governo Fidel Castro, Guevara foi à África, não logrou êxito na guerrilha do Congo, voltou à América Latina e organizou um foco de revolução socialista na Bolívia. Acabou executado em 9 de outubro de 1967 pelo exército boliviano com o especulado auxílio da CIA.

22.6.07

Inacreditável e insustentável

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Creio que o mais aberrante já não sejam as vacas hiper-férteis de Renan ou se a Mendes Júnior pagava os custos de sua aventura extraconjugal. O mais grave, a meu ver, neste circo que se armou no poder Legislativo é a fragilidade da instituição Senado. Que palhaçada é essa? Comissão de Ética presidida por um frouxo que gagueja e sequer foi eleito. Sebastião Machado Oliveira (SIBÁrbaridade) chegou ao Senado sem receber um voto. Mas como assim? Pasmem, Sibá(rbaridade) foi indicado pela militância petista à suplência da senadora Marina Silva, que ocupa o cargo de ministra do Meio Ambiente. Ele já integra o Senado desde quatro de fevereiro de 2003.

Nascido no Piauí, Sibá(rbaridade) morou no Pará antes de ir para o Acre, em 1986. Ele acabou na meia esfera côncava do Congresso por vias legais, porém questionáveis em termos de legitimidade. Na verdade, os únicos cargos que ocupou sustentado pelo voto foram (a) Presidente da CUT (1991 e 1994) e (b) Presidente do PT do Acre (2001). Já disputou eleições para deputado federal (1994), prefeito da cidade acreana de Plácido de Castro (1996) e deputado estadual (1998). Nunca venceu. É um suplente de carteirinha.

Falando sério, o senador possui um mínimo de representatividade, um tantinho de coragem e nada de competência para conduzir as atividades do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar. Seu prestígio entre os pares é tão débil que não consegue nomear um relator estável para tocar adiante o caso Calheiros. São 15 integrantes titulares da Comissão e mais 15 suplentes, nenhum assume para si a responsabilidade. A relatoria é desgastante politicamente, com certeza. Independente da posição que se tome, quem aceitar o posto sofrerá represálias. Com um presidente do calibre de Sibá Machado, o caos e a esquiva devem continuar predominando na Comissão.


Pra frente Brasil! Pra trás malandragem!

19.6.07

Pergunta certa, pessoa errada


- Hola. ¿Con permiso, puedo hacerte una pregunta? ¿Adonde fue asesinado el presidente Allende?

Uma curiosidade compreensível de um turista encantando com os ares históricos que se respira pelas veredas de La Moneda, uma questão absolutamente normal, se o cidadão indagado não fosse um carabineiro, membro da guarda oficial do palácio.

La Moneda, construído originalmente para cunhar moedas ainda em épocas coloniais, é sede do governo chileno desde 1845. Em 1973, as forças armadas chilenas, auxiliadas pelos Carabineiros do Chile (polícia unificada do país) e por estrangeiros intrometidos arrebentaram parte das dependências que abrigavam o alto escalão administrativo de Salvador Allende. O poder foi tomado a bala. Mesmo encurralado ao lado de companheiros, os relatos históricos afirmam que o presidente eleito, que desencadeava uma reforma socialista, resistiu durante seis horas. Com capacete de mineiro e empunhando uma submetralhadora presenteada por Fidel Castro, desfaleceu ao ser alvejado pelos invasores golpistas, que justificavam o ato com argumentos de segurança nacional.

Eu, que não me dera conta da incompatibilidade da pergunta com o interlocutor, somente ouvi uma correção discursiva:

- Él no fue asesinado, señor. Allende se suicido.

A versão oficial dos setores que depuseram o ex-presidente é de suicídio. No vídeo acima, tu podes ouvir Augusto Pinochet anunciando a tomada do poder pela junta militar em 11 de setembro de 1973.

13.6.07

Água para quem tem sede

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O conteúdo é sobre política e dirigido para políticos. Pouco usual, mas bastante instrutivo. O sítio é editado pelo cientista político Francisco Ferraz, analista e consultor para campanhas eleitorais. Ferraz já foi reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, para alimentar o Política para Políticos, conta com uma equipe de três doutores e um doutourando em ciência política, além de um editor-jornalista.


Competente em sua proposta, o sítio oferece aos políticos brasileiros conhecimento prático e útil na atividade profissional e na carreira pública. São notícias da esfera do poder, informações sobre marketing, oratória, campanha, legislação e glossários que esclarecem conceitos técnicos, próprios do politiquês, nem sempre compreendidos por quem os utiliza.


Parece-me que Ferraz e seu time prestam um serviço à democracia e ao sistema político nacional. Se você tem algum governante ou assessor político em sua lista de e-mails, vale a pena repassar o link. Afinal, entre tanto descrédito e má-fé, há representantes que se encaixam no público-alvo do sítio, aqueles que “fazem da vida política uma vocação, do serviço público uma carreira e do pleno exercício da cidadania uma responsabilidade cívica”.

3.6.07

Construindo o Brasil

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É surpreendente o espírito politizado do setor de construção civil brasileiro. Elogiável a postura participativa no regime democrático e o engajamento no processo de escolha dos digníssimos senhores que representam os eleitores no Congresso. Nas últimas eleições, as construtoras doaram oficialmente R$ 27 milhões para campanhas de candidatos à Câmara e ao Senado. Conseguiram eleger 285 dos 513 deputados e 40 dos 81 senadores.

A boa vontade para com o desenvolvimento político e econômico do país é tão grande que as grandes empreiteiras (Camargo Correa, Odebrecht, Mendes Jr., Gautama, Barbosa Mello, OAS...) sempre oferecem seus serviços a custos mais leves aos cofres públicos. Portanto, vencem uma infinidade de licitações.

E viva o Brasil, país das coincidências. Quiçá, qualquer dia uma delas ocorra contigo. Teu avô pode ganhar mil vezes na loteria, o cofre do teu sogro pode aparecer cheio de dinheiro, ou teu pai pode ter um amigo muito camarada que pague tuas despesas e o aluguel da tua mãe.

“Eu vejo e não morro tudo”.

1.6.07

¿Respuesta definitiva?

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À meia-noite do último domingo, o canal venezuelano de televisão RCTV (Radio Caracas Televisión) foi retirado do ar por impedimento arbitrário do presidente venezuelano Hugo Chávez. O “Chapolin petroleiro” negou-se a renovar a concessão, afirmando que a emissora apoiara o golpe de Estado que tentou depor seu governo em 2002. A imprensa mundial sentiu-se ferida e bradou, quase ignorando os pressupostos da imparcialidade e neutralidade. Construiu um discurso fundamentado na defesa da democracia e da liberdade de expressão, rechaçando a atitude do aspirante a ditador. Indo ao encontro dessa postura, o Polipoliticus acredita que a pluralidade de vozes, no âmbito midiático, é salutar à democracia e enxerga o fechamento da RCTV com preocupação.

Em função da dinâmica temporal e estrutural deste blog, opto por não publicar nada factual sobre o episódio, que pode ser bem compreendido através dos veículos da grande imprensa. Entretanto, acredito que seja pertinente discorrer um pouco sobre a RCTV. Quem comanda a emissora? Que interesses representa? Qual é sua história?

Fundada por William H. Phelps, venezuelano filho de um estadunidense, a RCTV foi o terceiro canal de televisão da Venezuela, entrando no ar em 15 de novembro de 1953. Foi pioneiro em transmissões esportivas, jornalísticas e de entretenimento. Mostrou, ao vivo, a chegada do homem à Lua e, na década de 80, exibiu inúmeras telenovelas que lhe asseguraram liderança de audiência. Recentemente, a partir de 2000, o foco mudara para os reality shows e para o “¿Quién quiere ser millonario?”, a versão venezuelana do “Show do Milhão”. Carro-chefe do canal, o programa de auditório era conduzido pelo presidente da emissora Eladio Lárez, celebridade nacional e criador do bordão da moda no país de Chávez: “¿respuesta definitiva?” (era o ultimato aos participantes equivalente ao “Posso perguntar?”, de Sílvio Santos).

A RCTV empregava cerca de 3 mil funcionários e pertencia ao Centro Corporativo 1BC, uma corporação dona de outros empreendimentos no ramo de comunicações dirigida, a partir de Caracas, por Marcel Granier. Entre as empresas do grupo estão: o provedor de internet “Eterno”; a cadeia de rádio “92.9 tu FM”; a gravadora “Sonográfica”; a “Recordland”, loja de discos, vídeos e ingressos para shows; o portal de Internet “Radionet”, e a “FonoVideo”, produtora de novelas sediada em Miami.

As principais concorrentes da Radio Caracas Televisión eram a Globovisión – de alcance limitado à Caracas e Valencia –, a Televén e a Venevisión. Esta última pertencente ao terceiro homem mais rico da América Latina, Gustavo Cisneros, dono de uma fortuna avaliada em U$ 6 bilhões. O magnata comandou a articulação da derrubada de Chávez em 2002, mas, surpreendentemente, foi cooptado pelo inimigo e hoje defende o governo. Especula-se que os U$ 163 milhões anuais correspondentes às cotas de publicidade da RCTV migrarão para a Venevisión, consequentemente, para os bolsos de Cisneros e seus sócios.

Por fim, estou convicto de que a sociedade venezuelana perdeu um meio de crítica, opinião e representação. Não se pode negar que era dirigida por interesses coorporativos, sem embargo, a RCTV colaborava para a “construção da realidade” a partir do seu ângulo, oposto ao chavista. E, como sabemos, a pluralidade de versões e pontos de vista é benéfica à interpretação dos fatos.