1.6.07

¿Respuesta definitiva?

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À meia-noite do último domingo, o canal venezuelano de televisão RCTV (Radio Caracas Televisión) foi retirado do ar por impedimento arbitrário do presidente venezuelano Hugo Chávez. O “Chapolin petroleiro” negou-se a renovar a concessão, afirmando que a emissora apoiara o golpe de Estado que tentou depor seu governo em 2002. A imprensa mundial sentiu-se ferida e bradou, quase ignorando os pressupostos da imparcialidade e neutralidade. Construiu um discurso fundamentado na defesa da democracia e da liberdade de expressão, rechaçando a atitude do aspirante a ditador. Indo ao encontro dessa postura, o Polipoliticus acredita que a pluralidade de vozes, no âmbito midiático, é salutar à democracia e enxerga o fechamento da RCTV com preocupação.

Em função da dinâmica temporal e estrutural deste blog, opto por não publicar nada factual sobre o episódio, que pode ser bem compreendido através dos veículos da grande imprensa. Entretanto, acredito que seja pertinente discorrer um pouco sobre a RCTV. Quem comanda a emissora? Que interesses representa? Qual é sua história?

Fundada por William H. Phelps, venezuelano filho de um estadunidense, a RCTV foi o terceiro canal de televisão da Venezuela, entrando no ar em 15 de novembro de 1953. Foi pioneiro em transmissões esportivas, jornalísticas e de entretenimento. Mostrou, ao vivo, a chegada do homem à Lua e, na década de 80, exibiu inúmeras telenovelas que lhe asseguraram liderança de audiência. Recentemente, a partir de 2000, o foco mudara para os reality shows e para o “¿Quién quiere ser millonario?”, a versão venezuelana do “Show do Milhão”. Carro-chefe do canal, o programa de auditório era conduzido pelo presidente da emissora Eladio Lárez, celebridade nacional e criador do bordão da moda no país de Chávez: “¿respuesta definitiva?” (era o ultimato aos participantes equivalente ao “Posso perguntar?”, de Sílvio Santos).

A RCTV empregava cerca de 3 mil funcionários e pertencia ao Centro Corporativo 1BC, uma corporação dona de outros empreendimentos no ramo de comunicações dirigida, a partir de Caracas, por Marcel Granier. Entre as empresas do grupo estão: o provedor de internet “Eterno”; a cadeia de rádio “92.9 tu FM”; a gravadora “Sonográfica”; a “Recordland”, loja de discos, vídeos e ingressos para shows; o portal de Internet “Radionet”, e a “FonoVideo”, produtora de novelas sediada em Miami.

As principais concorrentes da Radio Caracas Televisión eram a Globovisión – de alcance limitado à Caracas e Valencia –, a Televén e a Venevisión. Esta última pertencente ao terceiro homem mais rico da América Latina, Gustavo Cisneros, dono de uma fortuna avaliada em U$ 6 bilhões. O magnata comandou a articulação da derrubada de Chávez em 2002, mas, surpreendentemente, foi cooptado pelo inimigo e hoje defende o governo. Especula-se que os U$ 163 milhões anuais correspondentes às cotas de publicidade da RCTV migrarão para a Venevisión, consequentemente, para os bolsos de Cisneros e seus sócios.

Por fim, estou convicto de que a sociedade venezuelana perdeu um meio de crítica, opinião e representação. Não se pode negar que era dirigida por interesses coorporativos, sem embargo, a RCTV colaborava para a “construção da realidade” a partir do seu ângulo, oposto ao chavista. E, como sabemos, a pluralidade de versões e pontos de vista é benéfica à interpretação dos fatos.




Um comentário:

Augusto Paim disse...

Gustavo, estava assistindo agora a uma discussão na Tv Câmara sobre essa questão, e acabei entrando em contato com uma visão diferente do caso. O embaixador brasileiro na Venezuela explicou qual a situação. Parece que essa tv apoiou um golpe de estado que, inclusive, poderia ter matado o Chávez. E ele esperou o período de renovação da concessão, não censurou a tv.

No mais, falaram que o Brasil não deveria interferir numa questão que é interna da Venezuela. Tendo a concordar. Principalmente porque isso tudo parte de um movimento de denúncia da própria imprensa, aquele grito absurdo de "censura à imprensa" que surge a qualquer sinal de perda de algum dos váaaaarios privilégios que ela tem. Tudo soa como censura, daí.

Por isso gosto daquele programa de autocrítica da imprensa: Observatório. A imprensa a todos analisa e critica, mas não permite que se faça isso com ela mesma.

Resumindo: acho que essa questão com a Venezuela deveria ser vista por um viés menos impeditivo de questionamentos, que é esse do "censura àimprensa".

Bueno, abração! Pena tu não ter assistido a esse programa da Tv Câmara. Tu teria mais propriedade pra julgar os argumentos do que eu!