27.4.07

Querem recortar o tesouro paraense

.



Ainda não conheci, mas esta semana passei bem perto da Serra dos Carajás e da Serra Pelada. Por alguns dias estive em Marabá, cidade com pouco mais de 200 mil habitantes que cresce de forma vertiginosa tanto demográfica como economicamente. Marabá é o pólo urbano do Sul e Sudeste do Pará e está a duas ou três horas de uma das grandes reservas minerais do mundo, concentrada nos municípios de Canaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás e Parauapebas.

A descoberta de minérios na Serra dos Carajás começou em 1966. Durante a década de 1970, o Brasil uniu-se a empresas estrangeiras para extrair a riqueza do solo paraense até o general Figueiredo lançar o projeto “Grande Carajás”. Com isso, as transnacionais foram indenizadas e o monopólio da atividade foi atribuído à, na época, estatal Companhia Vale do Rio Doce. Hoje, privatizada, a empresa ainda opera na região e extrai principalmente ferro, cobre e manganês.

Mas na década de 1980, o que moveu uma multidão ao Pará foi o ouro. A Serra Pelada, localizada dentro do município de Curionópolis, transformou-se em um formigueiro humano (foto) que atraía gente de todos os lados, sonhando em desenterrar a aposentadoria. Em 1991, por ter alcançado o lençol freático e inundado, a produção de ouro do maior garimpo a céu aberto do mundo caiu drasticamente e os garimpeiros debandaram.

Em maio de 2005, um acordo entre governo e garimpeiros reativou a atividade no garimpo de Serra Pelada. Essa região do Pará é tão rica em recursos naturais que, ao conhecer Carajás, o premier do Conselho de Estado chinês Zhao Iyang cresceu o olho: “Seus antepassados devem ter subornado Deus para Ele lhes dar tanto. Tenho inveja de vocês”, admitiu.

Mas esse assunto de minérios e garimpos veio parar aqui, no Polipoliticus, por uma simples razão: um projeto de lei, querendo criar um novo Estado brasileiro, já está tramitando no Congresso. Há um time de políticos, empresários e cidadãos comuns querendo desmembrar o Sul e o Sudoeste do Pará e constituir o Estado do Carajás. A idéia já tem sítio na internet e até folder (não assinado). O novo Estado seria formado por 38 municípios, incluindo Cannaã dos Carajás, Curionópolis, Eldorado dos Carajás, Parauapebas e seus tesouros subterrâneos.

Para o projeto tornar-se realidade, os eleitores do território que formaria o novo Estado precisam aprovar a idéia em um plebiscito. No caso de aprovação, a unidade federativa precisará de uma capital. O que farão? Ou uma nova cidade brotará no meio do nada, como Brasília e Palmas, ou optarão por instituir o pólo urbano regional como capital. No caso, Marabá. Com certeza, tem muita gente interessada e preocupada com essa história.


2 comentários:

Augusto Paim disse...

Trabalho de correspondente... antenado ao que tá acontecendo, ligando ao passado!

Iuri Lammel disse...

São muitos interesses envolvidos - entre empresas, políticos e cidadãos querendo uma 'boquinha" nisso tudo.

Com tanto peixe grande metido nisso, deve haver grande possibilidade de surgir mais uma unidade federativa.

Lamento pelo povo do Pará, o que menos ganhou com Serra Pelada e o que vai sair perdendo com esta jogada política.