
21.12.07
Onde ele aprende isto?

20.12.07
Elas vêm chegando!
A idéia foi do Executivo. Yeda, que não tem primeira-dama para cuidar da Assistência Social, já fundiu a Pasta com a Secretaria de Justiça e agora quer entregar as rédeas para o ‘terceiro setor’.
Em pouco tempo, Ongs qualificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIPS) poderão assumir órgãos do governo gaúcho. A Assembléia aprovou, há dois dias, o modelo de parceira entre o Estado e as entidades. A princípio, elas só tomarão conta das áreas de cultura e assistência social, nas quais o Estado concorre com a iniciativa privada.
Espera aí! Quem conseguir juntar a papelada para se credenciar poderá meter a mão em grana pública para organizar exposições, administrar teatros, criar pseudo-eventos, fazer e acontecer
Enquanto durar o termo de parceria, as Ongs manejarão a estrutura estatal – incluindo edifícios, carros, equipamentos – em nome do bem social, da paz, dos direitos humanos e da solidariedade.
Eu, que até hoje não me resolvi sobre o assunto, olho desconfiado tanto para o Estado máximo quanto para o mínimo. O que espinha um pouco é esse monstro que tem cada vez mais braços e não para de crescer. Toda madame ou político já pensou em fundar um Ong, se ainda não fundou.
A descrença generalizada no Estado faz com que a sociedade desiludida avalize esse movimento. O lema é velho: já que eles não fazem, façamos nós! Não podemos esperar parados.
O que é isso? Em português claro, neoliberalismo puro, travestido de bom moço. A indústria da solidariedade veio para aquecer o mercado, gerar empregos e justificar uma penca de projetos que abocanham muita grana PÚBLICA. Quem gosta do assunto pode entender os meandros do business do bom coração no filme Quanto Vale ou é por Quilo. Veja um trechinho acima.
19.12.07
O ovo ou a galinha?

2.12.07
O Outro Lado

Como o colega Augusto Paim e eu mesmo achamos o último post bastante parcial, tento equilibrar a opinião sobre o discurso e as ações do presidente venezuelano. O ponto de vista não é meu. É de alguém muito mais autorizado, especializado no tema. Na última quinta-feira, entrevistei o professor de história da UFRJ e analista da Globo News Francisco Teixeira da Silva. Parte da conversa foi publicada no Diário de Santa Maria, onde trabalho com freelancer. Reproduzo aqui o que foi para o jornal. O restante vem outro dia.
Gustavo Hennemann - Que momento do processo histórico vivemos na América Latina?
Francisco Teixeira da Silva - No começo dos anos 80, a maioria da população sul-americana - em Santiago, Buenos Aires, São Paulo, Rio de Janeiro e Lima - foram às ruas pedindo democracia. No continente, a democracia veio no bojo de grandes movimentos sociais, e não pelo arranjo de grupos da elite dominante, como aconteceu em outros períodos ditos democráticos da história. Significa que os grandes movimentos de democratização nesses países foram feitos por movimentos de massa. Nas duas décadas seguintes, essas demandas sociais não foram atendidas. Justamente na saída da ditadura, as pessoas passaram a ter menos empregos, empregos de pior qualidade e menos segurança cidadã. Por isso, a maioria dos latino-americanos, hoje, trocaria a democracia por mais e melhores empregos e mais segurança cidadã.
GH - Como podemos situar a figura do Hugo Chávez nesse cenário? Ele é o motor do movimento socialista da região?
FTS - Esse movimento, que luta por uma cidadania ampliada, se apresenta mais geral. Com características diferenciadas, obviamente, mas vai da Argentina, Chile até a Venezuela. É geral, e não pode ser centrado em um caso específico [de Chávez]. Agora, evidentemente, 1998 [quando Chávez é eleito] soa um alarme.
GH – O socialismo do século 21 é uma nova tentativa daquilo que já não deu certo no século 20?
FTS – Por tudo o que eu vi e conversei na Bolívia e na Venezuela, os experimentos que eles estão fazendo lá são totalmente diferentes do que foi o marxismo. Não se tem mais uma doutrina materialista da história, nem uma classe condutora da história, como o proletariado. Não se tem um partido que faz a história. Em vários encontros que tive com Evo Morales, perguntei por que o movimento se chama socialismo, mesmo sabendo o que foi a União Soviética. Ele disse ‘Socialismo para mim é o que eu vi a minha avó e minha mãe fazendo juntas na terra, tentando reconstruir as formas comunitárias e a solidariedade entre as pessoas que trabalhavam no campo’. O socialismo do século 21, na compreensão dele é, sobretudo, um socialismo de expansão e desenvolvimento de formas de cooperação e solidariedade.
GH - Morales e Chávez são acusados de não-democráticos. Como você enxerga essas críticas?
FTS - Isso depende do que cada pessoa entende por democracia. Se democracia é uma reunião de pessoas que falam baixo e que resolvem tudo dentro de salões atapetados, então, o que se passa na Bolívia e na Venezuela não é democracia. Acho que a questão central é: existem condições de expressão da vontade da maioria? Que condições essa pessoas têm para exprimirem seus anseios, suas aspirações? Isso tem sido respeitado? Se consideramos o conceito de cidadania ampliado, não bastam eleições regulares, diversidade de partidos e ampla imprensa para termos democracia na América Latina.
GH - Até quando Lula poderá ficar "em cima do muro" em relação a Chávez e seus aliados?
FTS - Eu acredito que o Lula tem sido bastante claro, e não tem ficado em cima do muro. Ele declarou publicamente o apoio dele à candidatura da Cristina Kirchner na Argentina. Ele tem levado um projeto integracionista e de apoio a essas lideranças. Ele afirma que, para o Brasil, não servem os experimentos que estão sendo feitos na Venezuela e na Bolívia, mas diz que não tem nada contra. Seria uma arrogância querermos ensinar à população venezuelana o que é melhor para ela. Votar a favor ou contra Chávez. Isso é de uma arrogância, de um etnocentrismo absurdo. Tanto que, quando os EUA tentaram dizer o que era melhor para o Iraque, as conseqüências foram muito duras.
GH - Chávez não estaria influenciando e tentando mostrar o que é melhor para outros países?
FTS - Convenhamos. A União Européia tem mil ações e missões atuando dentro do Brasil. Faz parte da política, como no caso do Chávez, doar combustível para pobres americanos. Ele não vai conseguir subverter o governo com alguns galões, mas não deixa de ser irônico. E, se os presidentes eleitos da Bolívia e Nicarágua pedem ajuda, não é influenciar. Faz parte do jogo. São estratégias de política de Estado.
GH - Os países vizinhos e o mundo não precisam temer o reaparelhamento das Forças Armadas da Venezuela?
FTS - Chávez tem um Exército de aproximadamente 100 mil homens. O grosso das compras são corvetas, fragatas e submarinos da Espanha; aviões de treinamento comprados no Brasil; 100 mil fuzis comprados na Rússia e fardamentos comprados da China. Então, primeiro, é preciso entender que não se compra arma em geral. Antes de comprar, você precisa ter uma doutrina e um cenário de guerra. Por isso, quando se analisa o conjunto das compras do Chávez, tudo parece defensivo, e não, ofensivo. Todo ano, os norte-americanos põem um porta-aviões em frente a Trinidad e Tobago, praticamente no litoral venezuelano, onde há petróleo. A sinalização de Chávez, com a compra de armas, é que, se houver uma invasão, haverá resistência. Acusá-lo de paranóico seria irresponsabilidade se fizermos uma retrospectiva. Nas últimas décadas, os Estados Unidos invadiram uma série de países ricos em petróleo.
A impressão é que Fidel alertou Chávez e Morales: "Façam o que puderem agora, que os EUA estão com os pés atolados no Iraque e não podem responder imediatamente". E eles realmente estão sem capacidade de intervenção direta e imediata na América Latina pela primeira vez em mais de cem anos.
23.11.07
Sigam-me os bons

É rei espanhol, presidente colombiano, Congresso brasileiro, nação estadunidense e mais uma penca de encrencas. Desde 2 de fevereiro de 1999, quando adentrou o Palácio Miraflores, Hugo Rafael Chávez Frías tem agitado os nervos de muita gente. Militar do Partido Socialista Unido, nasceu em Sabaneta, no estado de Barinas, – provavelmente nem os venezuelanos saibam direito onde isso fica – e já virou pauta de muita reunião internacional.
Com 53 de idade, Chávez calcula que ainda tem cerca de 25 anos para comandar o petróleo e a política nacional. A revolução socialista que promove está avançando e pode dar um salto em dez dias, quando a reforma constitucional será votada pelo povo. Ao todo, 36 artigos serão acrescentados e outros 33 modificados – a Constituição Bolivariana de 1999 tem, ao todo, 350 artigos.
Ex-aliados de Chávez e especialistas prevêem a vitória governista no referendo de 2 de dezembro, quando os venezuelanos dirão “sim” ou “não” à reeleição infinita, entre outras mudanças. Segundo a imprensa local, muita gente não quer aprovar nada, mas simpatiza com o presidente. Para não contrariá-lo, se absterão, beneficiando os defensores da reforma.
Quem visitou Cuba recentemente afirma que as fotos e faixas saudando Chávez são comuns nas ruas de Havana e no interior da ilha. Tenta-se prenunciar o destino da Venezuela e acelerar o processo de socialização.
Apesar dos avanços políticos, acredito que a popularidade do aspirante a déspota vem se definhando na proporção em que seu discurso se radicaliza. Além de Fidel, Morales, Ortega e Mahmoud Ahmadinejad, não há muita guarida.
Por fim, ele se transformou no “Chapolin das Américas”. Apesar da auto-imagem – que tenta reproduzir – de herói, divisor de riquezas e salvador dos pobres, as performances são desastrosas, com atitudes que evidenciam um desequilíbrio ideológico e emocional. Mesmo assim, tenta resistir em tom sóbrio e austero.
Já está flertando com o ridículo. Só os correligionários ouvem atentos. O resto do mundo encara como banais os gritos, os desentendimentos e ameaças. Bom para Bush, Uribe, Bachelet e também para Lula, que pode ganhar ainda mais espaço e popularidade com sua “política de equilíbrio” (em cima do muro).
12.11.07
Breitenbach, aprenda como se escreve

Inevitavelmente, costumo mudar o conceito que tenho de uma pessoa em duas situações. Primeira, quando conheço pessoalmente alguém célebre, que antes era mito e vira gente de carne e osso. Segunda, quando alguém que conheço há muito tempo e que fez parte do meu dia-a-dia torna-se personalidade pública.
Zilá Maria Breitenbach é um caso do segundo tipo. Foi professora, igual minha mãe, e administrou a cidade que nasci, no noroeste gaúcho, por oito anos. Agora é deputada e preside o PSDB do Estado.
Viúva, Zilá é dona da rádio AM mais ouvida
A primeira vez que apertei teclas em urna eletrônica, digitei um seguro 45. Parecia a melhor alternativa. Nunca dialoguei com a chefe do Executivo local, mas era figurinha carimbada nos Jogos da Pátria, Blumenfest e Feira do Livro. Só me dei conta que ela voaria mais alto quando um funcionário do Ministério do Meio Ambiente de FHC soube localizar minha cidade no mapa.
- Claro, Zilá esteve em Brasília recebendo prêmio pelo trabalho que faz
Foi um prenúncio. Se sua carreira política vai decolar, não sei. Mas parece que adentrou o Estado-Maior do Piratini. Vale a pena observá-la e aprender a escrever seu sobrenome.
Foto: Divulgação Palácio Piratini
8.11.07
Ele sabia, óbvio que sabia
Como anunciado, voltei!
O texto de retorno do Polipoliticus foi ensaiado ontem. Já estava matutando em busca de exemplos para criticar o nosso "equilibrista do Circo das Américas", mas travei a língua na hora certa. Minha idéia era comparar Lula com aquele tipo de adúltero resistente. Pode flagrar ele nu, na cama com outra, que a negação é peremptória - como diria José Dirceu, que adora essa palavra.
O porquê da comparação, já explico. O gás natural liquefeito está escasso. A indústria com medo de investir, os taxistas arrependidos por terem implantado o kit gás e as termoelétricas paradas por falta de combustível. O que ele brada, cuspindo-se todo: “É só acontecer uma coisinha que já querem acabar com tudo. Eu garanto que há energia suficiente para esse país crescer até
Como disse, pareceu-me um cafajeste profissional. Querendo esconder um elefante atrás de um poste. Mas ninguém contava com a cartinha na manga do paletó de grife. É óbvio que os executivos da Petrobrás sopraram na orelha de abano. A descoberta da reserva de petróleo imensurável no litoral paulista animou até moribundo. As ações preferenciais da petroleira, composta de capital misto, subiram mais de 16%.
Ontem, não deveriam passar de uma dúzia os sabedores da boa nova, incluindo ele, que bancou o profeta.
Foto: Divulgação do Palácio do Planalto