26.7.07

López Obrador e a caravana proselitista

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Há uma semana, tive a oportunidade de ouvir Beatriz Rajland, pesquisadora social na área de Direito Político e professora da Universidade de Buenos Aires (UBA), sobre a atual situação política mexicana. Mais especificamente, sobre as movimentações articuladas pelo candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, Andrés Manuel López Obrador, também conhecido pela sigla AMLO. A derrota nas urnas, por aproximadamente 200 mil votos, em 2006, não foi reconhecida pelo candidato, que se auto-intitula “presidente legítimo”. Desde que anunciada oficialmente a vitória de Felipe Calderón (PAN), Obrador iniciou uma marcha pelo território nacional com caráter proselitista. A agenda e informações sobre o movimento podem ser acompanhadas por meio do sítio oficial na internet.

Rajland visitou recentemente a cidade de Puebla e o Distrito Federal mexicano e se diz surpreendida com o fenômeno que constatou. “Observamos, em AMLO, um processo inverso ao de institucionalização. Depois de deixar o cargo de prefeito da Cidade do México, López Obrador reuniu as forças do PRD (Partido da Revolução Democrática) para a campanha presidencial, e agora se integra aos movimentos sociais de base. Ele visita Estado por Estado para debater com o povo mexicano em grandes reuniões. Ou seja, um caminho neste sentido: Estado – partido político – movimentos sociais”, conclui Rajland, que define Obrador como populista. Sobre a polêmica eleição, a docente argentina é enfática, “Ninguém ganha por uma diferença de 0,5%. Seguramente houve fraude”.

Concretamente, o que se pode afirmar é que AMLO tem conquistado aliados e vem se confirmando como uma força não-eventual de esquerda. Depois de romper com os setores empresariais que o apoiaram na eleição, demonstra uma radicalização no discurso. Sua postura resultou em algumas baixas, mas também cooptou esquerdistas e até membros do movimento zapatista, de tendências anarquistas. Marcos [principal porta-voz zapatista] afirmou, no ano passado, que aqueles que apoiassem Obrador deveriam deixar o movimento. Alguns migraram, outros se mantêm em ambos.

Sobre as conseqüências da movimentação política de López Obrador, Rajland não prevê efeitos imediatos. “Se as eleições estivessem próximas, poderíamos esperar algo, mas Calderón ainda tem cinco anos e meio de mandato [no México são seis anos]”. Não obstante, convém prestarmos atenção à mobilização crescente dos mexicanos, já que o país mostra-se dividido, tanto política com economicamente. Enquanto a renda per capita anual dos Estados de Monterrey e Leon (norte) é de US$ 15 mil, em Chiapas (sul), não passa de US$ 2 mil. Reduto zapatista, Chiapas é um dos Estados mais pobres, junto de Oaxaca e Yucatán. Cerca de 42% da população é indígena e a taxa de analfabetismo chega a 23%.

Enfim, o México apresenta um cenário que urge por transformações sociais. Entretanto, Calderón vem priorizando a segurança e o combate ao narcotráfico, deixando os projetos sociais em segundo plano. Diante do quadro, López Obrador vê sua militância engrossar e a força crescer. A foto abaixo confirma que ele não está sozinho quando questiona a legitimidade do presidente em exercício.







Fotos: Sítio de divulgação do movimento AMLO (www.amlo.org.mx)

Um comentário:

Augusto Paim disse...

Tchê, isso que é jornalismo (principalmente webjornalismo): não importa o lugar em que tu esteja e em que situação, sempre haverá uma pauta. E tu não deixa de te divertir (se a viagem é pra se divertir) por causa disso.

Grande abraço, tchê. Talvez nem tu mesmo te dê conta da qualidade que tá teu blog. Tu vai lá, apura e escreve sobre algo que tu sabe. Pra ti chega a ser banal. Mas pra todos nós que acompanhamos, é uma apuração e um conhecimento ímpar.

Tem que divulgar e divulgar e divulgar!