Foram dois dias de visita oficial ao Paraguai. O presidente brasileiro encontrou-se com Nicanor Duarte no domingo (20) e na segunda-feira (21), quando assinaram acordos de defesa nacional, incentivo aos biocombustíves e controle da febre aftosa. Lula ainda levou a tiracolo uma patota de empresários com o selo de “prováveis investidores”, na tentativa de demonstrar boa vontade da nossa parte. Entretanto, a recepção da imprensa e do povo paraguaio não foi, exatamente, cordial. Mordidos com a história de Itaipu e desconfiados em relação aos “brasiguaios”, os jornais externaram um descontento geral para com as relações políticas e econômicas que se estabelecem entre Brasil e Paraguai.
No que toca à usina, o desconforto é gerado pela dívida paraguaia com o estado brasileiro – que se arrasta desde a construção, em 1974 – e pelos termos do contrato que regulamenta o funcionamento da hidrelétrica binacional. O Tratado de Itaipu garante metade da energia produzida para cada uma das nações, sendo que o excedente não pode ser vendido a terceiros e deve ser cedido ao país parceiro pelo preço de custo. Como o Paraguai supre 95% de sua demanda com apenas 15% da produção de Itaipu, o Brasil compra os 35% excedentes por um preço abaixo do mercado. Enfim, se vendesse a energia elétrica à Argentina, como se cogita sub-repticiamente, o Paraguai geraria uma considerável receita extra. Sobre a dívida, já há acordos que beneficiam nossos vizinhos, porém Lula adiantou que não se deve mexer no contrato de utilização da energia, sob risco de estremecer a boa relação diplomática entre os dois países.
No caso dos “brasiguaios”, a hostilidade é maior. Fixados ilegalmente na região fronteiriça do Paraguai, cerca de 500 mil brasileiros (equivalente a 8% da população paraguaia) plantam em terras adquiridas principalmente depois da construção de Itaipu. A animosidade dos paraguaios nativos já resultou em enfrentamentos, imóveis incendiados e inúmeras atitudes discriminatórias. O próprio estado paraguaio já ameaçou expulsar os brasileiros instalados na região de fronteira, onde a venda de terras a estrangeiros é proibida pela constituição.
Os números do intercâmbio comercial entre os dois países acentuam a desproporção da relação bilateral. O Paraguai representou 0,9% das exportações brasileiras e só 0,32% do total das importações. Mais concretamente, o Brasil vendeu ao Paraguai US$ 1,2 bilhão e comprou US$ 295 milhões. Ou seja, nesse caso, somos “cachorro grande” e é difícil convencê-los de que não têm motivos para nos chamar de “imperialistas e exploradores”, como fez o periódico ABC Color no dia em que Lula chegou a Assunção.
Entretanto, mesmo sob pressão, o mandatário brasileiro não arredou o pé na questão do contrato de Itaipu, tampouco considerou o assunto digno de diálogo. Nosso administrador-mor, que se diz defensor dos membros mais pobres do Mercosul, parece que encontrou uma boa estratégia de projeção política na turbulenta América do Sul. Percebe-se o início de uma guerra de influências entre Lula e Chávez no continente. De forma sutil e implícita, a discussão sobre matriz energética têm evidenciado o presidente brasileiro, defensor dos biocombustíveis, e angustiado o venezuelano, déspota petroleiro.
No que toca à usina, o desconforto é gerado pela dívida paraguaia com o estado brasileiro – que se arrasta desde a construção, em 1974 – e pelos termos do contrato que regulamenta o funcionamento da hidrelétrica binacional. O Tratado de Itaipu garante metade da energia produzida para cada uma das nações, sendo que o excedente não pode ser vendido a terceiros e deve ser cedido ao país parceiro pelo preço de custo. Como o Paraguai supre 95% de sua demanda com apenas 15% da produção de Itaipu, o Brasil compra os 35% excedentes por um preço abaixo do mercado. Enfim, se vendesse a energia elétrica à Argentina, como se cogita sub-repticiamente, o Paraguai geraria uma considerável receita extra. Sobre a dívida, já há acordos que beneficiam nossos vizinhos, porém Lula adiantou que não se deve mexer no contrato de utilização da energia, sob risco de estremecer a boa relação diplomática entre os dois países.
No caso dos “brasiguaios”, a hostilidade é maior. Fixados ilegalmente na região fronteiriça do Paraguai, cerca de 500 mil brasileiros (equivalente a 8% da população paraguaia) plantam em terras adquiridas principalmente depois da construção de Itaipu. A animosidade dos paraguaios nativos já resultou em enfrentamentos, imóveis incendiados e inúmeras atitudes discriminatórias. O próprio estado paraguaio já ameaçou expulsar os brasileiros instalados na região de fronteira, onde a venda de terras a estrangeiros é proibida pela constituição.
Os números do intercâmbio comercial entre os dois países acentuam a desproporção da relação bilateral. O Paraguai representou 0,9% das exportações brasileiras e só 0,32% do total das importações. Mais concretamente, o Brasil vendeu ao Paraguai US$ 1,2 bilhão e comprou US$ 295 milhões. Ou seja, nesse caso, somos “cachorro grande” e é difícil convencê-los de que não têm motivos para nos chamar de “imperialistas e exploradores”, como fez o periódico ABC Color no dia em que Lula chegou a Assunção.
Entretanto, mesmo sob pressão, o mandatário brasileiro não arredou o pé na questão do contrato de Itaipu, tampouco considerou o assunto digno de diálogo. Nosso administrador-mor, que se diz defensor dos membros mais pobres do Mercosul, parece que encontrou uma boa estratégia de projeção política na turbulenta América do Sul. Percebe-se o início de uma guerra de influências entre Lula e Chávez no continente. De forma sutil e implícita, a discussão sobre matriz energética têm evidenciado o presidente brasileiro, defensor dos biocombustíveis, e angustiado o venezuelano, déspota petroleiro.
Dia 27 de abril, Lula firmou com o Chile um acordo para a produção de biocombustíveis similar ao que assinou na visita ao Paraguai. Ademais, ofereceu à Bolívia um pacote de investimento que incluem a construção de uma planta de biodiesel. Enfim, vem tentando pegar o vácuo do etanol e do biodiesel para afirmar-se como liderança no continente, pondo-se, mesmo que discretamente, do lado oposto ao de Hugo Chávez. O conflito de interesses está declarado, restando-nos esperar quem será o primeiro a romper a cordialidade.

Mea culpa
É inegável. Mutatis mutandis, o Brasil estabelece uma relação de imperialismo para com os países menos expressivos economicamente. Alteram-se os papéis e as proporções, mas a lógica é a mesma da nossa relação com o “perverso império yankee”: favorecer-se do mercado consumidor e da produção de um país menos desenvolvido para potencializar o crescimento econômico nacional.
Pimenta nos olhos dos outros é colírio, mas é difícil reconhecer-mos que, eventualmente, também nos prestamos ao papel de vilão do sistema.
Fotos: Agência Brasil (Lula e Nicanor Duarte) e sopabrasiguaia.com (usina)