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1.9.07

Quem tem cargo tem medo

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Alguns ovacionaram a repórter Vera Magalhães pelo oportunismo (no bom sentido). Enquanto outros se puseram no lugar de Lewandowski, o ministro pilhado, repudiando a técnica utilizada na reportagem que rendeu manchete na Folha de São Paulo da última quinta-feira: "Tendência era amaciar para Dirceu", diz ministro do STF.

O ouvido atento da jornalista e a minuciosa descrição, com detalhes do cenário em que tudo aconteceu, não deixaram margens para que o magistrado do STF negasse o diálogo que a reportagem narra. Vera sabia muito bem da relevância das informações que ouvira e disse que se sentiu gratificada com a grande repercussão do texto.

A crítica do ombudsman do jornal, Mário Magalhães, apoiou a decisão da Folha em publicar a matéria. Segundo ele, o ministro exerce função pública, estava em um lugar público e as informações em jogo eram de legítimo interesse público.

Entretanto, Lewandowski não foi ouvido na apuração de Vera Magalhães. Fiquei imaginando o susto do ministro quando leu o jornal. Estampado no periódico de maior circulação nacional a marca do vinho que tomara e o clip que tocara às suas costas no restaurante em que estivera na noite anterior.

O outro lado só veio no dia seguinte. De uma extensa entrevista, destaco o trecho: "[No telefonema no restaurante] eu estava com a minha esposa, com quem sou casado há 30 anos. Nunca vi o Kakay [citado na matéria]. Informar o vinho que eu tomei, o que eu comi... Amanhã a imprensa estará fuçando no meu lixo para saber que tipo de remédio estou tomando. Se isso acontecer, é um país onde eu não quero viver e onde não gostaria que os meus filhos vivessem, em que a invasão de privacidade chega a este nível".

Quem delimita a vida pública e privada? Até onde se pode ir? Não consigo argumentos fortes para discordar do ombudsman, tampouco de Lewandowski. Só temos certeza de uma coisa: depois da última quinta-feira, tem gente em Brasília sussurrando até para pedir Coca-Coca.