27.7.07

O mundo gira, gira...

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Nelson Jobim não tem nada de louco, sabe que pior não ficará. A crise geral no sistema aeroviário chegou ao fundo do poço. Só aceitou o convite – depois de fazer charme – porque percebeu a fragilidade que abate o Planalto. Nosso cocheiro-chefe, de rédeas frouxas, acabou abrindo espaço para uma mão firme, uma voz austera. O novo ministro da Defesa já mostrou que diz aquilo que Lula, o bonzinho, não tem coragem de dizer. Na posse, sentenciou: “Se você errou, não peça desculpas, não se arrependa, não diga nada. Aja, ou saia. Faça, ou vá embora”. No lugar de Waldir Pires, qualquer um teria ruborizado.

Em março deste ano, o ex-ministro da Justiça de FHC foi forçado a jogar a toalha na disputa com Michel Temer pela presidência do PMDB. Viu suas chances de se candidatar ao Planalto diluídas. Nunca esperou que o mundo girasse e montasse essa situação. Com a habilidade e seriedade que tem demonstrado na gestão da crise, a grua em que Jobim subiu em Congonhas pode levá-lo ao palanque (veja a galeria de fotos da Folha Online).

O ex-presidente do STF não precisa fazer currículo. Fez mais do que assumir um cargo, sabe que pode estar em um trampolim. Pôs capacete e máscara, atravessou caminhando a Avenida Washington Luís e foi conferir de perto o palco do drama que desestabilizou a nação. Jobim subiu em ruínas para ver escombros, e foi visto por milhões de leitores e expectadores da mídia, que tem demonstrado competência (apesar da esquizofrenia). A conjuntura promete render popularidade àquele que administrar o caos.

Todos sabem que o novo ministro era candidato declarado para 2010 há poucos meses. Como teria sido a negociação com Lula? Que propostas e contrapropostas teriam surgido nas três vezes em que foi convidado para segurar o abacaxi do governo?

26.7.07

López Obrador e a caravana proselitista

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Há uma semana, tive a oportunidade de ouvir Beatriz Rajland, pesquisadora social na área de Direito Político e professora da Universidade de Buenos Aires (UBA), sobre a atual situação política mexicana. Mais especificamente, sobre as movimentações articuladas pelo candidato derrotado nas últimas eleições presidenciais, Andrés Manuel López Obrador, também conhecido pela sigla AMLO. A derrota nas urnas, por aproximadamente 200 mil votos, em 2006, não foi reconhecida pelo candidato, que se auto-intitula “presidente legítimo”. Desde que anunciada oficialmente a vitória de Felipe Calderón (PAN), Obrador iniciou uma marcha pelo território nacional com caráter proselitista. A agenda e informações sobre o movimento podem ser acompanhadas por meio do sítio oficial na internet.

Rajland visitou recentemente a cidade de Puebla e o Distrito Federal mexicano e se diz surpreendida com o fenômeno que constatou. “Observamos, em AMLO, um processo inverso ao de institucionalização. Depois de deixar o cargo de prefeito da Cidade do México, López Obrador reuniu as forças do PRD (Partido da Revolução Democrática) para a campanha presidencial, e agora se integra aos movimentos sociais de base. Ele visita Estado por Estado para debater com o povo mexicano em grandes reuniões. Ou seja, um caminho neste sentido: Estado – partido político – movimentos sociais”, conclui Rajland, que define Obrador como populista. Sobre a polêmica eleição, a docente argentina é enfática, “Ninguém ganha por uma diferença de 0,5%. Seguramente houve fraude”.

Concretamente, o que se pode afirmar é que AMLO tem conquistado aliados e vem se confirmando como uma força não-eventual de esquerda. Depois de romper com os setores empresariais que o apoiaram na eleição, demonstra uma radicalização no discurso. Sua postura resultou em algumas baixas, mas também cooptou esquerdistas e até membros do movimento zapatista, de tendências anarquistas. Marcos [principal porta-voz zapatista] afirmou, no ano passado, que aqueles que apoiassem Obrador deveriam deixar o movimento. Alguns migraram, outros se mantêm em ambos.

Sobre as conseqüências da movimentação política de López Obrador, Rajland não prevê efeitos imediatos. “Se as eleições estivessem próximas, poderíamos esperar algo, mas Calderón ainda tem cinco anos e meio de mandato [no México são seis anos]”. Não obstante, convém prestarmos atenção à mobilização crescente dos mexicanos, já que o país mostra-se dividido, tanto política com economicamente. Enquanto a renda per capita anual dos Estados de Monterrey e Leon (norte) é de US$ 15 mil, em Chiapas (sul), não passa de US$ 2 mil. Reduto zapatista, Chiapas é um dos Estados mais pobres, junto de Oaxaca e Yucatán. Cerca de 42% da população é indígena e a taxa de analfabetismo chega a 23%.

Enfim, o México apresenta um cenário que urge por transformações sociais. Entretanto, Calderón vem priorizando a segurança e o combate ao narcotráfico, deixando os projetos sociais em segundo plano. Diante do quadro, López Obrador vê sua militância engrossar e a força crescer. A foto abaixo confirma que ele não está sozinho quando questiona a legitimidade do presidente em exercício.







Fotos: Sítio de divulgação do movimento AMLO (www.amlo.org.mx)

23.7.07

Que é peronismo?

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Provavelmente poucos se atrevem a responder imediatamente. Nem mesmo as explicações complexas da academia argentina dão conta de esgotar esse fenômeno político-social-histórico que permeia o país desde 1944. Foi nesse ano que o coronel Juan Domingo Perón, um dos líderes do regime militar implantado em junho de 1943, começa a se destacar como diretor do Departamento Nacional do Trabalho. Um posto que lhe rendeu uma popularidade ímpar e possibilitou sua eleição em 1944, com a redemocratização da Argentina. Foi a gênese de um processo que dividiu o país em ANTES e DEPOIS de Perón.

O regime implantado sob o comando do novo presidente em 1946 tinha suas idiossincrasias. Perón sustentava amplo apoio da massa operária e tentava estabelecer um cenário unânime, sem oposição, sem pluralismo. O primeiro mandato (1946 – 1950) seguiu a fórmula de “Comunidade Organizada” que consistia em uma união policlassista sob os olhos do governo, na qual o Estado operava como intermediário na relação entre a organização dos empresários e a central sindical. Já o segundo mandato, para o qual se reelegeu em 1950, foi interrompido em 1952 pela Revolução Libertadora, organizada pelas forças armadas e setores civis opositores (partidos menores e Igreja Católica). Lá foi Perón para o exílio do qual voltaria somente em junho de 1973.

Ao retornar, Perón concorre ao lado de Isabel, sua segunda esposa, e vence mais um pleito. Mas a Argentina não era mais a mesma, nem o peronismo, que se encontrava dividido entre direita e esquerda. Burocratas sindicais representavam os destros, enquanto a Juventude Peronista conformava os blocos canhotos, revolucionários, socialistas, guerrilheiros. O retorno do grande líder – em 20 de junho de 1973, no aeroporto de Ezeiza, em Buenos Aires – revelou o clima interno do movimento. Os setores opostos lutaram por espaços próximos ao palco em que discursaria o "pai adorado". O empurra-empurra se transformou em troca de tiros que resultou em aproximadamente 13 mortos e 365 feridos. Uma situação contraditória e paradoxal. Todos peronistas, mas inimigos políticos. A ruptura no movimento se mostrou irreversível e, ademais, recrudesceu com o passar do tempo. O grande líder, já debilitado fisicamente, morreu menos de um ano depois, transformando-se em mito.

E hoje, quem são os peronistas? A grande maioria dos atores políticos de relevância na Argentina é do Partido Justicialista (PJ), fundado por Juan Perón em 1946. Entretanto, muitos são opositores entre si e brigam pela herança (popularidade e votos) do casal eternizado no imaginário coletivo (Perón e Evita). Cada corrente faz a sua interpretação do movimento, o que resulta em direitistas e esquerdistas que se dizem peronistas, tal qual na década de 1970. A falta de consenso é tão grande que em 2003 a Justiça permitiu que três candidatos concorressem à Presidência argentina pelo partido P A R T I D O. O ex-ministro da economia do atual governo e candidato a presidente Eduardo Lavagna é peronista, Menem é peronista, Kirchner e Cristina também são. Não se entendem nem para eleger a direção do PJ, que está sob intervenção judicial desde 2005, muito menos para escolher um candidato único ao pleito presidencial de outubro.

A idéia do grande líder carismático e populista era simples: A Argentina deve ser peronista. Patrões e empregados, liberais e comunistas, jovens e velhos, torcedores do Boca e do River. Com esse intuito, Perón, orador hábil e eloqüente, dirigia seus discursos para todos. A ambigüidade e amplitude de suas posturas permitiram que arrebanhasse uma enorme parte da nação. Para ele, quem era antiperonista era antipátria.

Obviamente, não deu certo. Uma democracia não pode e não deve ser unânime, a oposição é salutar e o pluralismo de forças e opiniões é bem-vindo em um regime que respeita a liberdade civil e política. Os descontentes precisam ter vez para bradar, chance para opinar. Se não, estouram de forma menos civilizada.




Foto: Wikipédia

13.7.07

Medalha de Ouro

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Pronto, Renan! Comemores, já podes respirar aliviado. Chegou o teu redentor. Não é a nova maravilha do mundo, mas também é carioca. Os Jogos Pan-Americanos do Rio começaram com tudo. Fogos, show, gafe, vaias e tudo mais que possa atrair câmeras, microfones e a atenção do Brasil.

A tocha correu pelas mãos de muitos campeões olímpicos. Gente que corre, nada, salta, luta... Mas nenhum com a tua resistência. Não há fundista nem pugilista com teu fôlego e força. De nada serviram os cruzados, ganchos e diretos da imprensa. As fechadas e tiros da oposição te acertaram, mas estás em pé.

Viste inúmeros cortes no time do Conselho. Foram membros comuns, relatores e um presidente jogando a toalha. Mesmo com a desistência do companheiro Roriz, menos preparado, seguiste impávido. Mataste no cansaço alguns e intimidastes outros com tua pujança. E a equipe de revezamento do “3 x relatório” segue sem enxergar a linha de chegada.

Eu até apostaria que o “homem” foi vaiado, de modo constrangedor, na cerimônia de abertura porque não te rendeu homenagens.


Parabéns, Renan! Nosso polivalente campeão.



10.7.07

Mais um chiste sujo

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Outra dica do amigo e colega Augusto Paim. A charge é assinada por Ronaldo, que também é autor do quadro da postagem anterior.

6.7.07

O problema é de todos!

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Mais uma manifestação inteligente, não violenta, que mostra a indigação dos representados. Não consegui identificar o autor, mas vale a mensagem, o brado silencioso de protesto ante os representantes do mau, do nojo, da hipocrisia, do fisiologismo político, da mais pura sacanagem pública.

A imprensa parece estar engajada e determinada a assumir o posto de cão-de-guarda e fiscal do Estado. Sem embargo, cabe a todos nós, cidadãos, comprar essa briga. Estes digníssimos senhores não passam de funcionários contratados pelos eleitores para administrar com bom senso e reponsabilidade esta terra de desgraças copiosas.


Pra frente Brasil! Pra trás malandragem!

1.7.07

Convocação


Convoco a todos, cidadãos inescrupulosos, jornalistas maquiavélicos, pessoas de má fé, a nos compadecer e pedir perdão a este nobre homem, de tão pura humildade.

Devemos nos envergonhar. Não passamos de carrascos sem alma, algozes querendo estraçalhar a carreira pública deste sensível senador.

Se você duvidou em algum momento da integridade ética e moral deste senhor, assista ao vídeo acima e reze cinco Atos de Contrição.

Eu vejo e não morro tudo!

Pra frente Brasil! Pra trás malandragem!